sábado, 26 de abril de 2008

DÉCIMO SEGUNDO ANDAR

Nunca mais as manhãs farão sentido! O que te faz acordar de manhã?
Da janela do apartamento, olho para o prédio em frente, sinto o cheiro da cidade que mais parece um imenso enterro de desgraçados, nenhuma das pessoas transeuntes imagina minha dor. Essas ilusões carregadas não passam de subterfúgio para viver essa vida mesquinha, miserável e cotidiana.
As janelas do prédio em frente, são vitrines amargas, com pessoas vivendo a mentira das suas felicidades artificiais, todos vivendo amargamente cada um suas mentiras, traindo suas esposas e maltratando seus filhos. Homens velhos que de dia são imaculados em seus escritórios, amarrados pelo pescoço em suas gravatas pretas, e que a noite, na solidão de seus quartos se masturbam fantasiando orgias com outros homens. Mulheres recatadas e distintas que brigam pela moral e bons costumes, mas que na verdade sentem inveja da felicidade e da doçura das putas na calçada. No prédio da frente, as janelas são buracos negros, que não me levam a lugar nenhum. Nada pode me segurar, nem o ar, nem as janelas do prédio da frente, nem as lembranças do meu passado de felicidade artificial. Amanhã todos saberão sem entender porque pulei do décimo segundo andar.

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