sábado, 30 de maio de 2009

INCÊNCIO DA ALMA

Nem sempre o calor do fogo é sinônimo de aconchego, principalmente quando perdemos o controle dos incêndios que criamos para aquecer a nossa alma.

Ela olhava a janela com um enorme desejo de se jogar lá de cima, não conseguia sair na rua, tinha medo de que ele a encontrasse novamente, queria morrer mais não tinha coragem para tanto. Seu aniversário era daqui uma semana, iria fazer 15 anos e teria que cruzar com ele, festejar ao lado dele, quando na verdade queria matá-lo e depois morrer.

Na mesa de centro uma revista aberta numa reportagem falando sobre os cuidados domésticos para não causar acidentes fatais, esta ali sua inspiração para o suicídio.

A mãe da menina comprava suas roupas, achava que a filha de 14 anos já era uma mulher, calcinhas de fio, roupas coladas e sensuais, assim era que a menina se vestia, e adorava a liberdade que as amigas da escola não tinham. Não havia conversa entre mãe e filha, mas havia o contato mínimo e necessário.

Ele era um cara bem sucedido, boa pinta, mas não agüentou ver o corpo perfeito da filha, que desfilava pela casa de xortinho e camiseta sem sutiã, mostrando os peitos durinhos e deliciosos, sonhava com a buceta apertada dela, até que um dia, depois de alguns goles, chegou em casa e tomou a menina a força, aproveitou que sua esposa estava viajando e estuprou a filha.

A menina se debateu no início, mas depois ficou parada em silêncio, sem entender porque seu pai estava fazendo aquilo. Ele gozou rápido e ávido, saiu de casa e foi a um bar encher a cara.

A menina nunca contou nada para ninguém, fechou-se em seu mundo, não ia mais a escola, vivia doente. A mãe da menina parecia estar ocupada de mais e não prestou atenção. Ele saiu de casa e aparecia de vez em quando como se nada tivesse acontecido. A impressão que se tinha era que estavam numa fase ruim do casamento e que poderiam reatar a qualquer momento.

A menina queria pular, 10 andares seriam o suficiente para livrar seu corpo de sua alma. Olhou o novamente o céu, e decidiu acabar de vez com seu sofrimento, mas não seria justo deixar o filho da puta livre.

Ligou para mãe, que respondeu não poder atender e iria chegar tarde, mas que a festinha do próximo fim de semana estava garantida. Então ligou para o pai, fez uma voz dengosa, disse que precisa falar urgente com ele, queria lhe mostrar umas coisas e pedir seu presente de aniversário.

As imagens da filha nua, o corpo branco e a boca carnuda lhe deixaram de pau duro. Depois daquela noite em que ele a possuiu a força, nunca mais teve contato com ela, e agora ela esta telefonando para ele, com certeza teria outra chance de experimentar a menina.

Ela ficou na varanda olhando a rua, quando viu o carro dele fazer a curva, correu para cozinha e abriu todas as bocas do fogão liberando o gás, voltou para a varanda, nas mãos uma caixa de fósforos, o plano era explodir o apartamento, matar o pai e morrer junto.

Em poucos segundos o gás já havia invadido todos os cômodos, o pai dela não tocou o interfone, nem a campainha, ainda tinha a chave, quando entrou sentiu o cheiro do gás e correu para cozinha, no meio do caminho foi interceptado pela voz da filha:

_Pai, eu estou aqui!
_O que isso filha! O gás esta vazando, não acende nenhuma luz, abre a janelas...
_ Pai, eu to na varanda, vem aqui me ajudar!

O homem tomado de um desespero confuso correu pela sala do apartamento em direção a varanda e encontrou a menina com a caixa de fósforos nas mãos. Naquele exato instante ele entendeu o que estava acontecendo, paralisou por alguns segundos e assistiu a menina acender o fósforo.

A explosão jogou a menina do décimo andar. O homem morreu queimado nas chamas.

Na manhã seguinte a imprensa de todo país anunciava a catástrofe acontecida num bairro de classe média da cidade. Todos os relatos foram dados pela mãe, a história do pai que estuprou a filha que para se vingar tocou fogo no apartamento foi capa de todos os jornais e revistas.

Nos meses seguintes, a mãe da menina pegou o dinheiro do seguro de vida do marido que ainda estava no nome dela e mudo-se com seu amante para uma praia nordestina, havia dado tudo certo, manipular o marido e a filha foi fácil de mais.

1 comentários:

Jorge Silva disse...

Na ausência de amor, só nos resta a dor...

Banal, porém real...

Ş