sexta-feira, 14 de novembro de 2008

IMPROVÁVEL

Ana era um travesti que trabalhava no centro da cidade, todas as tardes ela se preparava para enfrentar a noite, seios fartos, cabelos loiros lindos, roupa mínima. Na bolsa camisinhas, batom, escova de cabelos e uma navalha.
Durante o dia, ela adorava passear pelo centro, colocava roupas bem comportadas e era olhada gulosamente pelos homens ditos de família, adorava passear no shopping e comparar lingerie.
Ana tinha clientes muito assíduos, homens de terno, pais de família, maridos dedicados que passam a vida na função de comprar casa e carro novo, homens velhos que não pouparam esforços para pagar a escola dos filhos e que hoje querem apenas se divertir e Ana era um brinquedo de luxo, mas ela estava cansada desta vida de luxuria, queria poder viver um pouco em paz.
Aquele mês havia sido muito ruim para Ana, não parou de chover um só dia nas últimas duas semanas, fazia frio em pleno novembro e os clientes habituais não estavam comparecendo. Naquela noite viu descer a rua uma caminhonete importada, ela levantou os seios e sorriu, o carro parou, o vidro escuro baixou e dentro estava o Dr. Anacleto Paiva no volante e no banco do carona uma senhora de taier preto muito elegante.
_ Oi Ana!
_ Oi doutor! Quem é essa aí? Sua mãe?
_ Não essa é minha mulher, ela topou fazer uma festinha com a gente, vamos?
Ana ficou muito grilada, aquela velha estava com cara de poucos amigos, mas o Dr. Anacleto estava com jeito de criança que acabou de ganhar brinquedo novo.
_ Olha aqui doutor, um programa assim é mais caro!
_ Não importa o preço!
Ana entrou no carro, o silêncio deixou a todos muito desconfortáveis, na cabeça do doutor já se antecipava a orgia, na cabeça de Ana passava o sofrimento de ter que enrabar o doutor e depois a mulher dele, na cabeça da velha morava um desespero, sobras de medo e indecisão giravam pelo caminho.
Entraram no Motel, o doutor escolheu o quarto mais caro, na garagem o doutor foi o primeiro a sair do carro, Ana respirou fundo e saiu em seguida, a mulher ficou no carro, o doutor bateu no vidro:
_Vamos? Você não vai dar pra trás logo agora?
_Eu não vou entrar! Você vai, faz o que tem que fazer, fique o tempo que quiser, mas eu vou ficar aqui esperando.
_Vaca! Não sei como te aquento todos estes anos, saiba que amanhã mesmo saio de casa, não aquento mais a tua cara!
_ Vai aproveita seu travesti! Come e se lambuza, eu vou ficar aqui.
Ana olhou aquilo e ficou em silêncio, estava achando a cena muito divertida, ela viu na conversa do casal exatamente aquilo que ela mais detestava na vida cotidiana, o amor superficial construído de mentiras e envolto de uma obrigação imposta por uma receita de felicidade que não existe. O coração de Ana estava feliz, ela estava convicta que sua escolha de vida era a melhor que ela poderia ter feito.
A mulher fechou a janela e o doutor pegou Ana delicadamente pelo braço e entraram no quarto.
No carro um mistura de ódio e frustração, ela ficou imaginando o que os dois estariam fazendo, baixou o espelho do pára-sol, analisou suas rugas, as marcas da idade, lembrou dos filhos, dos netos e chorou.
Ela estava muito nervosa, desceu do carro e ficou alguns minutos andando de um lado para outro na garagem. Decidiu entrar.
Entrou bem lentamente, as roupas estavam encima da cama, ela rapidamente pegou as chaves o carro no bolso da calça e foi para o banheiro. Ana viu quando ela entrou, o doutor já estava desacordado dentro da banheira.
A mulher e Ana se aproximaram e numa troca de olhares, sem dizerem nada trocaram um longo beijo na boca. O doutor estava dopado deitado na banheira só com os o nariz para fora. O plano das duas era simples, sairiam do Motel, jogariam o carro no precipício e fariam álibi uma para outra, plano perfeito.
Tranzaram enlouquecidamente, o travesti e a velha transaram ao lado do doutor adormecido. A mulher depois do gozo resolveu tomar um banho no chuveiro e ainda nua, antes sair do banheiro resolveu secar os cabelos, estava com pressa, precisavam levar o doutor para o carro e executar o plano, ele estava dopado e logo estaria morto. Num ato de descuido enrrolou-se no fio do secador de cabelos, escorregou e caiu na água ao lado do marido, os dois morreram eletrocutados na banheira do motel.
Ana entrou em desespero,o curto circuito que matou o casal derrubou a energia do motel, Ana sacudiu os dois e constatou que estavam mortos, desesperada e pulou o muro, fugiu semi-nua pela rua de trás.

1 comentários:

Anônimo disse...

É...
Bem amargo...
hauhauhauaua

Ş