segunda-feira, 9 de junho de 2008

O SUPERVISOR DA FÁBRICA

Era sexta feira, ele saiu para o almoço, estava um calor terrível, comeu tranquilo e sozinho no refeitório da fábrica, voltou para o escritório, fumou um cigarro na base da escada, olhou calmamente o horizonte e subiu, com a mão na massaneta respirou fundo, criou coragem e entrou, olhou com ódio e recentimento todos os colegas, talvez se alguém o tivesse comprimentado, se alguém o tivesse notado ele tentaria resolver as coisas de outra maneira. Trancou a porta, colocou a chave no bolso, e sem dizer uma única palavra, começou a atirar.
Matou primeiro a secretária, ele odiava aquela mulher arrogante que atendia ao telefone e que por se achar gostosa tratava todo mundo muito mau, depois matou o gerente comercial, a empresa inteira sabia que ele roubava, aplicava golpes de nota fria, faturava por fora era um verdadeiro bandido. Num golpe de vista procurou com os olhos os vendedores, estavam como sempre com seus celulares na orelha ignorando o trabalho das pessoas da fábrica, para eles o mais importante era faturar, vender e lucrar sem se importar com o sacríficio dos que trabalhavam até de madrugada e nos fins de semana para entregar as peças, matou os três que caíram em cima dos seus blocos de pedido. O gerente de marketing trancou-se no banheiro, era um incompetente, todos sabiam que ele só se mantinha no cargo porque enrabava o marido da patroa, forçou a fechadura, abriu a porta e uma ânsia de vômito subiu pela garganta, como um cara como aquele poderia ser tão nojento, sua última jogada de marketing foi o de se mijar nas calças com as mãos em oração pedindo “peloamordedeus”.
No corredor matou o Office Boy, aquele moleque era mais respeitado que ele e só estava na empresa para vender maconha, fornecia drogas para toda a diretoria, era uma espécie de protegido dos donos e dos chefes, morreu mascando chiclet. Entrou na cozinha, a senhora do cafezinho estava em baixo da mesa rezando, ela era a única pessoa que o tratava bem, trancou a porta pelo lado de fora e seguiu pelo corredor.
Chegou na sala da patroa, ela estava muito tranqüila, os carros da polícia já dobravam a esquina, nos corredores da administração não sobrou ninguém, o ritmo da fábrica continuo normalmente, o barulho das máquinas era maior que o barulho dos tiros, o sangue manchava o tapete que segurava os pés e sustentava as almas daquele escritório. Ele olhou fundo nos olhos dela, ela abriu a gaveta, pegou o estojo de maquiagem, tirou o batom vermelho e lentamente começou a arrastar o borrão pelos lábios.
_Você está pensando que vai me seduzir e aí eu não vou te matar?
_Não! Se você vai me matar quero morrer bonita, vou te pedir um único favor, só não atira no meu rosto, quero que meu velório seja de caixão aberto.
_Não acredito, depois de tudo você ainda me trata assim com ironia.
_Ironia e desprezo. Você é um inútil que não serve para absolutamente nada, sempre te desprezei e até hoje só te usei. Todas as coisas que você fez pra mim me fizeram crescer muito, graças ao teu esforço fiquei famosa, ganhei prestígio e dinheiro, mas não ache que eu vou respeitar uma criatura idiota como você.
_É por isso que estou aqui, no caminho matei todos os que riram pelas minhas costas e agora vou matar você, quero acabar com essa arrogância e essa falta de consideração que vocês tem por todos os que se esforçam em nome de um ideal.
_Tudo bem, mas eu vou morrer feliz por saber você vai passar seus últimos dias de vida numa cadeia suja ao lado de pessoas que estão a sua altura!
_Você acha mesmo que eu vou preso? Guardarei uma última bala pra mim!
Um silêncio fúnebre tomou conta da sala, ele havia ganho o jogo, ela olhou pela última vez a tela do seu computador, sabia que iria morrer, não sentiu remorso, culpa ou arrependimento de qualquer natureza, sua arrogância e seu coração amargo eram maiores que qualquer coisa dentro dela. Ela encheu os pulmões num suspiro profundo e antes de soltar o ar uma bala atravessou seu peito e mais cinco tiros desfiguraram totalmente seu rosto.
As balas haviam acabado, ele não guardou a última para si, os policiais estavam no corredor e na certeza do suicídio avançou contra a guarda que descarregou dezenove tiros no supervisor da fábrica.
A empresa não foi à falência, pelo contrário, o marido da empresária morta assumiu a administração e as coisas agora vão bem. Aos poucos todos vão esquecer o episódio, mas uma coisa é certa, o tratamento entre os colegas melhorou muito desde então.

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