terça-feira, 3 de junho de 2008

O MANÍACO DO CACHORRO SEM CABEÇA

Ele caminhava com pressa quando viu o aglomero da meninada no campinho do terreno baldio, elas estavam muito agitadas puxando pelo rabo o cadáver de um cachorro, era o terceiro que aparecia morto nessa semana, com um detalhe, os corpos estavam sem a cabeça.
Era intrigante, o que faria uma pessoa matar um cachorro, arrancar a cabeça e depois jogar o corpo no mato? O bairro está em estado de alerta, o maníaco do cachorro sem cabeça estava à solta, era preciso tomar alguma providência, o bairro sempre fora tranqüilo e as autoridades competentes não levaram o caso a sério, então ele resolveu chamar para si a responsabilidade de prender o maníaco.
O primeiro passo da investigação foi recolher os cadáveres para fazer uma análise, num ato de pura ciência criminalística ele enfileirou os corpos caninos na mesa da garagem de sua casa e numa conclusão forense chegou ao veredicto: Eram três vira-latas.
Passou à tarde naquela análise, os corpos já estavam fedendo muito, então depois do jornal nacional ele decidiu enterrar as vítimas do maníaco numa vala comum cavada no quintal, com a certeza de que se fosse preciso poderia exumar os corpos com facilidade.
Mas o que o assassino fazia com as cabeças? Havia um crime, havia os corpos, mas faltava um motivo, todo mundo sabe que sem motivo um crime não fazia sentido. Ele passou aquela noite em branco pensando no que levaria um homem a matar cachorros pela rua, e chegou à outra mirabolante conclusão forense: É para comer! Elementar meu caro, o assassino é o chinês que mora na rua da farmácia, ele está matando os cachorros para comer o miolo. Dizem que cérebro de cachorro é um prato muito exótico vendido na china.
Ele levantou-se como que por impulso, vestiu uma roupa qualquer e foi para frente da casa do velho chinês, ficou de tocaia observando a movimentação, já passava das cinco da manhã e nada, ele então ouviu a gritaria e os uivos de uns cachorros na rua de cima, por certo o chinês saiu pela porta dos fundos e estava atacando. Ele correu como nunca havia corrido antes, seu coração acelerado parecia querer sair pela boca, até que dobrando a esquina viu uma verdadeira matilha de cães em torno de uma cadela no cio, eram mais de dez machos envolta querendo enrabar a coitadinha, a cachorrada estava bem feliz numa orgia noturna. Ele ficou muito decepcionado e de cabeça baixa voltou para sua tocaia na frente da casa do velho chinês.
No caminho sentiu um frio na espinha, ouviu um barulho vindo do mato no mesmo terreno baldio onde as crianças encontraram o corpo pela manha, entrou sorrateiramente, e lá estava embaixo da trave mais uma vítima do maníaco do cachorro sem cabeça. O corpo ainda estava quente, havia muito sangue no chão, ele pegou o cachorro ensangüentado no colo, ouviu um uivo muito forte, virou-se para procurar o assassino e contra a luz da lua cheia viu um homem que saia do mato com a cabeça do cachorro em uma das mãos e na outra um machado, uma cena terrível, ele sentiu tanto medo que depois de urinar nas calças desmaiou em cima do corpo ensangüentado do cachorro sem cabeça.
Acordou pela manhã, todo coberto de sangue do cachorro com corpo canino ao seu lado, as crianças o encontraram e chamaram a polícia, afinal de contas aquele terreno era o campinho, como eles iriam jogar bola com um cara morto embaixo da trave? Todos tinham certeza de que ele era mais um cadáver. Mas o sol estava começando esquentar, uma multidão estava formada e um carro do IML já dobrava a esquina, os policiais nem mexeram no corpo, precisavam esperar o pessoal de perícia, ele ao ver as autoridades se levantou para tentar contar o que sabia sobre o maníaco.
Mas quando ficou de pé causou um furor na multidão, afinal de contas ele era um defunto coberto de sangue com um cachorro sem cabeça nas mãos. Todas as crianças, velhos e policiais fugiram com medo, ele levantou o cachorro pelo rabo e começou a caminhar na direção da rua, na visão das pessoas ele era o próprio diabo, as mulheres e as crianças começaram a gritar, os homens mais corajosos começaram a rezar e os policiais num ato heróico a fim de salvar a todos começaram a atirar, deram muitos tiros para garantir que nem o morto-vivo e nem o cachorro sem cabeça voltariam a andar, o cara caiu morto ao lado do cachorro que já estava duro.
A notícia de que um morto havia ressuscitado de forma demoníaco mexeu com a imprensa, a história do maníaco do cachorro sem cabeça foi contada em vários idiomas, os policiais ficaram famosos, uma senhora gravou tudo em seu celular e as imagens são sucesso na internet, as crianças que encontraram o corpo nunca mais jogaram bola naquele campinho e a família do morto vivo admitiu que ele fosse uma pessoa de hábitos muito estranhos.
O velho chinês não foi ver o aglomero no terreno baldio e no bairro os cachorros pararam de perder a cabeça.

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