ASSIM É QUE É.

Fumava um cigarro atrás do outro, já era assim há vinte anos, bebia muito, mas não era um alcoólatra chato e vez ou outra dirigia bêbado. Nunca concluiu a universidade, vivia de uns bicos como fotógrafo. Não fazia exercícios, era sedentário ao extremo da palavra. Comia sempre fora, adorava uma boa churrascaria, odiava cozinhar e não aquentava mais a comida da mãe. Sim! Quarenta anos de idade e ainda morava com a mãe. Sua cintura passava muito do ideal de beleza imposto pela sociedade e seus hábitos passavam longe de uma vida saudável. Quarenta anos e solteiro.

Ele tinha um irmão. Dez anos mais jovem, fazia esportes regularmente, já havia completado o curso de direito e estava fazendo “pós”. Morava sozinho num pequeno apartamento próximo da faculdade e era noivo da garota mais linda do bairro. Adorava cozinhar, não fumava e bebia muito pouco.

Hoje ele vestiu seu único terno, passou no bar, tomou umas cinco cervejas e umas três cachaças, não comeu nada, pendurou a conta, entrou no seu Chevete e foi em direção ao cemitério. Sabia que seria difícil, mas precisava encarar. O enterro do irmão mais novo nunca mais lhe sairia da cabeça, tão jovem e o coração lhe deixou na mão durante a partida de futebol. Impossível seria suportar o olhar de sua mãe todos os dias durante os anos que lhe restavam de vida!