O TROTE

O telefone tocou e a voz vinda pelo fio disse:

_São 19 horas, você vai morrer daqui 50 minutos.
_Alô! Quem é? Alô! Como assim morrer...

O telefone ficou mudo. Em casa ele estava fazendo as coisas de sempre, assistindo o jornal enquanto tomava café depois de um dia trabalho. Mas lembrou dos tais seqüestros pelo telefone, aqueles que os cars ligam de dentro da cadeia, comuns nos noticiários, mas desta vez não era seqüestro, era um aviso. Quem teria ligado?

Ligou para a polícia e explicou o acontecido, o policial disse que provavelmente seria um trote, uma brincadeira de alguém, mas essa resposta não o convenceu, ele fechou toda a casa, o relógio da parede marcava 19h10, a medida que o tempo ia passando ele ia se desesperando, afinal de contas, tinha menos de 40 minutos de vida.

Correu para a cozinha, pegou a faca e ficou ao lado do telefone olhando para a rua. Andava de um lado para o outro, fumava um cigarro em segundos e acendia outro na mesma hora, olhou para o relógio, eram 19h30, o tempo estava voando. Decidiu fazer barulho, ligou os eletrodomésticos, a batedeira, o liquidificador, o rádio, a televisão, e cantava, corria desesperado de um lado para o outro da casa.

O relógio marcava 19h40, ele sentou no meio do barulho e começou a chorar, desesperado com o que estava acontecendo, era um bom homem, um trabalhador, não devia nada a ninguém, mas a possibilidade de o fim estar próximo fez com que ele rezasse, se arrependesse de tudo o que fez de errado na vida, pediu perdão a tudo e todos.

Ligou novamente para a polícia, já eram 19h45, o policial percebendo o seu desespero tentou tranqüilizá-lo:

_Olha rapaz, isso é com certeza algum trote, mas faço o seguinte, venha aqui para a delegacia, aqui ninguém vai te machucar, eu garanto.

Ele adorou a idéia, já eram 19h47, iria pelo menos sair de casa. Entrou no carro e saiu cantando pneu, na esquina de dentro do carro viu um grupo de fantasiados, eram seus amigos indo para o baile a fantasia. Por conta da distração e da velocidade, furou o sinal vermelho e entrou embaixo de um caminhão de lixo, morrendo ali mesmo no asfalto, no relógio do painel do carro marcava 19h50.

Os amigos fantasiados ouviram o barulho e correram para ver o acontecido, estavam indo a casa dele, buscá-lo para o baile e levavam a fantasia de Drácula que ele havia encomendado.