terça-feira, 12 de maio de 2009

O resultado da Volúpia!
No último dia do Festival Catarinense de Teatro que aconteceu em Joinville, tivemos o PRAZER de assistir o espetáculo VOLÚPIA, da Cia Carona de Teatro.

O espetáculo é proibido para menos de 18 anos, a nudez e o prazer sem limites é o tema central das imagens criadas e provocadas pelo grupo. A força do tema e a complexibilidade dos conflitos propostos são uma grande receita para uma viagem descontrolada e louca, mas o grupo conseguiu segurar as rédeas e o espetáculo ficou fino e lindo.

É claro que estamos falando de cenas de estupro, de prostituição e muita violência, então onde encontramos Beleza? A beleza do espetáculo é que com tudo isso, em algum momento, todos conseguem ver a si mesmos, estampados ali, de forma teatral, que magicamente não é realidade, mas duramente é tudo verdade, por mais que no palco seja de mentira.

O espetáculo deixa clara a felicidade artificial em vivemos impulsionados pelo “reality show”, a violência de um sexo patológico e adoecido que a televisão nos empurra desmedidamente e a busca pela felicidade superficial.

Mas o melhor espetáculo estava na platéia, a cara das pessoas, o público em pânico querendo sair, mas o desejo de ver mais era muito maior, todos querendo sair, mas de alguma maneira se reconhecendo naquele espaço cênico.

Volúpia pode não ser o melhor espetáculo teatral de todos os tempos em Santa Catarina, mas é com certeza o mais sincero que eu já assisti e entrou para história do teatro no estado, mas o melhor resultado disso, é que lembrou a todos que por mais artificial que possa ser nossa felicidade, a noite choramos sozinhos abraçados ao travesseiro.

Obrigado ao grupo, e muita merda pra esse espetáculo!

6 comentários:

Daniel J.Casas, Joinville/SC disse...

Bem Amargo, podia até ser o sentimento do espetáculo!
Quando acabou e me perguntaram se gostei, não soube dizer com exatidão, Volúpia me causou um sentimento de perturbação.
Bom, gostei...
Seu texto a respeito do espetáculo está muito bom e resume meu estado de perturbação e nos coloca no foco da cena!
Valeu

Marcio Cubiak disse...

olá

sou Márcio, produtor da Cia Carona.
Gostamos do seu texto, estaremos conversando sobre ele, com vistas ao aprimoramento do trabalho.
Pedimos permissão para publicar na nossa página (www.ciacarona.com.br)

Abraços!

Robson disse...

Olá Márcio
Muito bom sua visita, pode si replicar o texto... de novo parabéns pelo espetáculo...

Rubens da Cunha disse...

engraçado, achei a peça moralista, e um tanto caricata. Tirando a cena dos travestis que foi muito interessante, o resto ficou aquém do limite. Dava para ir mais além, perturbar mais, tirar mais a roupa, e não estrupar de cueca uma moça com a calcinha intocada, enfim... sou adepto da sugestão como forma mais radical de perturbação, agora se é para escancarar, vai até o limiar entre a realidade crua e nua e a representação. Outra coisa é que eles me pareceram se levar muito a sério, faltou algo de auto-deboche, de sarcasmo ainda mais vivo do que o apresentado...
enfim, foi pertubadora, mas não foi o suficiente, pelo menos para mim, um anestesiado :)
valeu...

Robson disse...

Grande Rubens, que prazer tê-lo aqui no blog. Concordo com vc sobre muitos aspetos mas talvez o fundamental do teatro não seja a verdade explícita igual a vida real, deixa isso pro cinema ou para o Jornal Nacional, o teatro deve ser instigante e massacrante.

Valeu Rubens, e volte sempre

ArqueiroZen disse...

A Cia Carona vem de há tempos se destacando pela qualidade de seus espetáculos e pelos 'riscos cênicos' buscados e apresentados. Com 'Volúpia' não é diferente. Estava curioso por assistir a peça face aos comentários de pessoas que já tinham visto. Não chegou a me decepcionar por completo, mas posso dizer que foi um espetáculo que efetivamente não me 'tocou'. Sei também que cada apresentação é única e como sou ciente não só da competência do diretor e do dramaturgo como também dos atores, me pareceu que a 'energia' dessa apresentação - além de tudo - ficou bem aquém do que, acredito, o grupo já colocou em palco. Afora a obviedade da temática e da imagética simbólica colocada em cena, é uma obra que (como toda obra que se propõe a extrapolar o próprio sentido aparente) vai falar de várias outras 'volúpias', e os desejos ditos sexuais - carecas estamos de saber pelas informações e informes psicanalíticos – vem para encobrir outros desejos, via de regra estabelecendo uma confusão existencial que conduz, invariavelmente, a uma série de distúrbios, influenciando inclusive na própria personalidade do indivíduo. O tema é, no mínimo apropriado, uma vez que vivemos uma época de bastante confusão – ética, por assim dizer –, e propício então para refletirmos sobre nossas 'volúpias' no tocante a poder, dinheiro, status, procedimentos escusos com relação aos bens e às verbas públicas, etc. A sexualidade como mote chamariz para aprofundamento de desejos humanos não é novidade, mas – como ainda tema tabu – sempre suscita uma série de 'enervamentos'. Vejo que o perigo está em, face ainda aos mesmos tabus, perder-se o olhar sobre esses aspectos mais sutis (e de grande relevância) que o espetáculo invariavelmente suscita. E não só para os espectadores, mas também para os próprios artistas que propuseram a obra. Agora, independente das conjecturas e percepções de ordem pessoal, e também por observar o público que assistiu ao espetáculo, ouso afirmar que naquela noite o Teatro, mais uma vez, se fez!
Laércio Lálas Amaral

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