sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

BRIGA DE CASAL

Ela estava morta na sala de estar, o sangue escorria pelo chão, manchando o tapete e o piso de madeira. Ele não planejou nada, foi uma briga dessas que a gente tem com a esposa, as coisas esquentaram e ela começou a jogar tudo em cima dele, ele com raiva atirou de volta um pedaço de um dos vasos de porcelana, o caco atravessou a garganta e cortou a jugular, ela sangrou até morrer, em poucos segundos não se mexia mais.
Ele sentou-se no sofá e ficou assistindo a mulher morta com um caco de vaso atravessado na garganta. Foi até a cozinha, pegou uma cerveja na geladeira e ficou caminhando lentamente em volta da casa, tentando pensar numa solução.
Sentou-se na beira da piscina e colocou os pés na água, as luzes da casa estavam todas acesas, ele pensou nos filhos, lembrou das festas naquela casa. A chuva fina começou a engrossar mas ele não se mexeu, aproveitou a chuva gelada para esfriar a cabeça. Do outro lado da piscina, embaixo da churrasqueira ele viu um “Box” térmico. Levantou-se lentamente, pegou a caixa e arrastou para a sala. Por um segundo ele desejou que aquilo tivesse sido apenas um pesadelo, mas o cheiro de sangue era muito forte para negar o que havia acontecido.
Ele seria acusado de assassinato e preso em flagrante se não fizesse alguma coisa. Estava fazendo um esforço imenso para criar coragem, foi até a cozinha para buscar outra cerveja, mas parou no corredor, sentou no chão e começou a chorar, gritou desesperadamente, estava completamente só, gritou tentando pedir ajuda, mas o vazio da casa e o vazio da sua vida eram muito grandes para que chegasse alguém.
Ficou alguns segundos no corredor, a idéia era relativamente simples, ele colocaria o corpo da esposa no “Box”, levaria para a beira da estrada e há deixaria em qualquer lugar. Depois em casa limparia o sangue, arrombaria a própria casa e chamaria a polícia, ele seria a vítima, depois a mulher seria encontrada morta e ele estaria livre.
O corpo da mulher estava deitado bem próximo do tapete, ele há pegou nos braços e colocou cuidadosamente dentro da caixa, era preciso arrumá-la bem para fechar a tampa. Ele tentou várias posições, mas a mulher era grande de mais, as pernas ficaram para fora, não poderia ficar assim, foi até a cozinha, pegou a faca mais afiada da gaveta e num ato meticuloso, fez um corte delicado e cuidadoso no joelho direito, lentamente cortou os músculos e os tendões, poucos minutos depois a perna direita estava na caixa, depois a perna esquerda. O “Box” fechado coube exatamente no porta-malas.
Ele parecia estar em estado de choque, tremia muito, ao entrar no carro, pensou novamente nos filhos e como aquilo havia acontecido. Foi até a periferia da cidade, parou o carro ao lado de um barranco, olhou a paisagem, tirou a caixa da mala, e ficou esperando alguma acontecer.
Caminhou lentamente em direção do carro, não seria possível armar todo aquele esquema sem que alguma coisa desse errado, ele seria preso com certeza, porém antes de entrar no carro, ouviu um barulho estranho, como se alguém soltasse um pigarro. Ele olhou para trás e viu a mulher, sem as pernas, sentada no “Box”, arrancando da garganta o caco de vaso. Ele não correu, nem entrou em pânico, sentou-se no capô e ficou olhando aquela cena.
Ao amanhecer um grupo de trabalhadores o encontrou delirando, parado com o carro aberto. Poucos minutos depois encontraram o corpo da esposa esquartejada.Ele foi levado para um hospital psiquiátrico e passou os resto dos seus dias vendo a esposa sem as pernas sentada em todos os lugares.

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