sexta-feira, 27 de junho de 2008

REVIRAVOLTA

“Neonazista pedófilo é condenado por terrorismo na Inglaterra
Um simpatizante do nazismo que estava sendo investigado por pornografia infantil foi condenado por crimes ligados a terrorismo.”
Essa notícia o deixou muito empolgado, afinal de contas ele não seria o único a pensar que o mundo precisava de uma limpeza étnica, a matéria retratava os planos do neonazista, aquele cara resolveu tomar uma atitude e acabar com praga multirracial que assola o mundo, ele serviria de exemplo para muitos jovens neonazistas.
Não poderia aceitar os negros, nem os índios, nem os nordestinos e muito menos os crentes de bíblia cheirando a sovaco, mas o que ele mais detestava era os “estranhos”, essa gente doida que se veste de trapos, que não corta cabelo nem faz a barba, que usa brinco pelo corpo e que esta sempre envolvida com teatro, cinema e arte “contemporânea”, este tipo de gente confunde a cabeça da sociedade com suas idéias subversivas de liberdade total e amor livre.
Para ele arte era a Ópera vinda da Europa cheia de pompa com a orquestra e os artistas de verdade cantando e interpretando, o resto era coisa de mulato que não tinha o que fazer e merecia ser exterminado.
A notícia no jornal o incentivou, iria bolar um plano para iniciar uma série de assassinatos dessa gente estranha, queria ser conhecido como serial kiler dos “estranhos”. Sua primeira vítima seria o vizinho da casa de baixo, que alem de ser “artista” era negro, um vagabundo que nada fazia para contribuir com a sociedade e vivia de viola debaixo do braço. Iniciou a investigação, era preciso de todas as informações possíveis para matar essa gente sem ser preso, esse foi o erro do colega inglês, faltou investigação. Foi até o portão e bateu palmas, levava na mão uma xícara vazia e na cabeça a desculpa de pedir um pouco de açúcar.
Pelo muro ele viu uma gente reunida, um grupo estava no meio de uma espécie de ensaio, mexiam com tambores e rabecas, aquilo era uma heresia contra o fazer artístico, mais parecia um ritual pagão, sua convicção de matar aquela gente estava aumentando. Quem abriu a porta foi uma mulata linda, vestida de poucos panos e muito provocante.
_Oie! Posso ajudá-lo? – Perguntou a moça. Ele não sabia o que dizer, estava confuso, como poderia estar extasiado por uma mulata?
_Açúcar! Será que você poderia me emprestar um pouco de açúcar?
_Ah! Claro! Você é o vizinho a casa de cima, entre!
_Não obrigado!
_Entre, fique a vontade!
Ele entregou a xícara vazia para moça e entrou bem de vagar, seu coração estava acelerado, já na entrada foi surpreendido por uma música de ritmo muito rápido tocada por tambores e animada por umas rabecas meio distorcidas e desafinadas, foi até a garagem onde estavam todos reunidos. O ar cheirava a incenso, ele estava sentindo muito ódio de si mesmo por estar se sentindo bem no meio daquela gente estranha.
A mulata voltou com a xícara cheia de açúcar, ela era bailarina, linda de mais e não caminhava, flutuava. Ao chegar perto dele, ela encostou em sua mão meio sem querer, ele entrou em desespero, nunca havia tocado numa mulher tão linda, queria matar a todos, deveria estar com ódio de todos aqueles "estranhos", a sua mente entrou em colapso.
Por impulso, largou a xícara que se espatifou no chão e saiu correndo, subiu a ladeira sem olhar pra traz, um fusca descia a rua embalado e não conseguiu freio suficiente, o cara foi jogado uns vinte metros morro abaixo.
O incidente causou pânico nos visinhos, o ensaio foi interrompido, todos muito solidários o levaram para o hospital, a última imagem que ele viu antes de desmaiar foi a mulata que o segurava nos braços apertando sua cabeça entre os seios pedindo socorro.
Alguns dias internado no Hospital Regional, umas duas costelas quebradas, uma perna engessada e muitas escoriações pelo corpo. Depois daquele dia ele resolveu não mais cortar o cabelo, virou amigo dos visinhos estranhos, abandonou os planos nazistas e aquela idéia de virar um serial kiler ficou para trás. Semana passada foi a sua estréia no teatro depois de meses ensaiando com os novos amigos, o destino quis que ele interpretasse o delegado na peça “Orfeu da Conceição". Mês que vem ele vai se casar com a mulata da casa de cima que já esta grávida esperando gêmeos. Todos do grupo gostam muito dele, mesmo ele sendo um cara muito estranho.

2 comentários:

ArqueiroZen disse...

Hmmmmmmmmmmm........ não tão bem amargo, mas algo... acridoce! Algo acontece no SubmundoDoCrime!
L. Amaral

Robson disse...

O submundo do crime.. minha maior inspiração..... Valeu Lalas

Ş