segunda-feira, 26 de maio de 2008

SANGUE FRIO.

Ela dormia no quarto ao lado, a casa estava tranqüila, a noite quente e abafada, o ar úmido e pesado. Ele suava e se enrolava na cama, depois que a mulher morrera, nunca mais conseguiu ter uma boa noite de sono. Seus pensamentos vagavam inquietos, ele procurava razões para sua insônia, não agüentava mais sua sogra, talvez ela fosse culpada. Levantou-se e foi para a garagem fumar e mexer com suas ferramentas.
Ela era uma senhora simpática querida por todos no bairro, passeava diariamente com seu cachorro poodle, fazia as coisas da casa, era uma pessoa inteligente e letrada, mas odiava o genro, não agüentava mais a situação de viverem sob o mesmo teto, para ela a filha ainda estaria viva se não fosse casada com ele.
Na garagem tentava afastar os pensamentos ruins, ligou o esmeril e começou a afiar seus facões e machados, o serviço talvez trouxesse o sono. Enquanto trabalhava, imaginava uma forma de matar a sogra, pega-la dormindo, abafar com o travesseiro e vê-la morrer, ou talvez colocar veneno no café e esperar até que ela passasse mal para assistir sua morte.
O poodle não parava de latir, o barulho do esmeril assustou o pobre cachorro, nos sonhos dela reinava um único tema: Matar o genro. Foi até a cozinha, pegou uma faca, e ficou caminhando de um lado para o outro tentando criar coragem, o barulho era infernal, sua mente estava perturbada, a imagem da filha morta não lhe saia da cabeça. Ela foi lá fora e desligou a chave do relógio de luz, finalmente o silêncio, a única coisa que se ouvia eram os latidos.
Ele achou muito estranho, olhou pela fresta da porta alguém caminhando lá fora, no vizinho havia luz, só poderia ser um ladrão. Pegou o machado amolado pela insônia, foi até a cozinha, a porta dos fundos estava aberta, ele ficou na espreita, o coração pulsava a mil, quando o vulto apareceu, o machado desceu mortalmente na cabeça, uma poça de sangue se formou no chão da cozinha, neste exato momento o poodle parou de latir. Calmamente ele caminhou até relógio de luz, queria saber qual era cara do infeliz. Quando entrou na cozinha, viu a sogra caída e o poodle quieto deitado ao seu lado.
Ela estava morta, a última ligação viva com sua falecida esposa não existia mais, num ato muito tranqüilo e delicado, pegou o corpo e levou para garagem, levantou a lona, embaixo estava o freezer, deixou o corpo ainda quente no chão e foi até seu quarto buscar a chave. O poodle estava em silêncio, cuidava da velha morta como um anjo cuida de seu protegido.
Tirou as correntes que cercavam o freezer, abriu a tampa, fazia muitos meses que ele não abria aquele cadeado, lá dentro o corpo da esposa estava coberto por uma grossa camada de gelo, nem uma lágrima correu em seu rosto. Abaixou-se, pegou a sogra com delicadeza e ajeitou seu corpo junto com o da filha. Não ficou satisfeito, colocar a velha e deixar sua esposa embaixo. Mas naquele momento não tinha o que fazer, pensaria depois numa forma de resolver aquilo.
Antes de fechar a tampa, o poodle num ato de amor, pulou para dentro do freezer e deitou-se sobre sua dona. Ele olhou o cachorro, respirou fundo e baixou a tampa, passou o cadeado e com a lona cobriu o freezer novamente.
Na cozinha enquanto limpava o sangue, o sono começou a voltar, naquela noite ele dormiu tranquilamente e na manhã seguinte saiu, pegou o ônibus em direção ao centro, precisava urgente comprar outro freezer

2 comentários:

Ahlan Dias disse...

Frio e ríspido como a lâmina que entrecorta a carne.

Tem continuação?

Abraço!

Robson disse...

então, normalmente os meus contos são assim mesmo, dificilmente tem continuidade, terminam dando a impressão de que falta alguma coisa.heheheheh valeu car e obrigado por ler este blo tão singelo.

Ş