quinta-feira, 8 de maio de 2008

O LARANJA

Desligou o carro. No estacionamento do senado pairava aquele ar de segunda feira, o calor insuportável de Brasília, a falta de umidade no ar, pouquíssimas pessoas trabalhando e um gostinho de café com adoçante na boca, tudo era peculiar de uma manhã normal. Ela estava linda de vestido longo, cabelo escovado, salto alto e batom vermelho, ela ficava linda de batom vermelho. Seu corpo escultural e sua beleza incomum não deixavam dúvidas, ela era secretária de algum senador da república.
Na noite passada ele a deixou em casa, havia passado o domingo todo muito nervoso. Eram amantes, ela secretária, ele chefe de gabinete do senador. Antes de ir embora disse que estava muito preocupado por conta de alguns acontecimentos no cenário político e levou o dia todo para dizer que estava recebendo ameaças por saber de mais e que enquanto secretária, ela também deveria tomar cuidado. Mas estva tranqüila, pois na lista dos que sabem de mais, ela se garantiu, era amante do chefe de gabinete, e participava das festinhas sexuais promovidas pelo senador, nada poderia lhe acontecer.
No sábado à tarde o senador estava em sua cidade, reuniu-se com alguns empresários e políticos, o esquema de desvio de verba estava sob controle, nada poderia dar errado, milhões de reais seriam desviados indo para contas fantasmas e depois aquecidos em bancos no exterior, porém, era preciso achar um “laranja” que assumisse a culpa, e naquele sábado, na fazenda do senador eles resolveram a questão.
Ela apressou-se para chegar logo no prédio, estava muito quente no estacionamento e o ar condicionado há faria muito feliz, andou lentamente pelos corredores, em Brasília poucos tem pressa e muitos sempre estão atrasados. Os corredores estavam vazios, nem parecia segunda feira. Encaixou a chave na porta do gabinete e percebeu que não estava trancada, entrou cuidadosamente e viu todo o escritório bagunçado como se tivesse sido invadido e roubado, irritada pegou o telefone para chamar a segurança, quando levantou os olhos, percebeu uma sombra, soltou um grito de horror, ele estava morto e pendurado pelo pescoço, havia cometido suicídio.
A segurança chamou a policia federal que investigou e em seus relatórios afirmaram que ele havia realmente cometido suicídio. O senador ficou horrorizado com tudo, foi capa de jornal e deu entrevista na televisão. Uma semana depois divulgaram uma nota na imprensa de que o suicida havia desviado milhões do governo, mas como estava morto seria muito complicado de encontrar o dinheiro e impossível de punir o culpado.
O senador foi enfático ao dizer que não sabia de nada e que a traição de seu chefe de gabinete era imperdoável, num discurso emocionado, com lágrimas nos olhos disse que não poderia correr o risco de ter sua biografia maculada por um acontecimento como aquele e principalmente, de que ele estaria a disposição da policia federal para ajudar nas investigações.
Ela sofreu um acidente trágico e morreu numa das curvas a caminho da sua casa, o senador lutou no combate da corrupção no Brasil e foi reeleito.

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