segunda-feira, 19 de maio de 2008

INFÂNCIA NO BECO

Depois que chegou da escola, tomou banho e foi dormir, já estava quase pegando no sono quando escutou alguém entrar em seu quarto, seu pai sentou-se ao lado da cama e começou a se masturbar, ela sabia que não adiantaria gritar, então fez como das outras vezes, tirou a roupa, abriu as pernas e ficou parada, ele fez tudo o que queria, depois se vestiu e foi trabalhar, trabalhava a noite no centro da cidade, era assim desde o nove anos.
Uma tarde depois de sair da escola, resolveu não voltar pra casa, encontrou uns moleques na praça e ficou ali mesmo, com os moleques ela aprendeu a fumar craque e a roubar bolsas, coisas rotineiras dos que vivem na rua. Com os moleques ela descobriu a felicidade numa casa sem paredes com uma família sem amor. Quando sentia fome fumava craque, quando não tinha craque roubava bolsas, quando não tinha bolsas para roubar, transava com alguém em troca de dinheiro e assim seguiram os dias.
Na véspera de completar 15 anos, numa noite muito fria de inverno, sentiu uma coisa muito estranha, um embrulho no estomago, vomitou pelo beco. Uma menina mais velha que acompanhou o vômito desde o inicio, riu muito, ofereceu um que já estava aceso e disse:
_Tu ta fudida, isso aí tem cara e gravidez!
Aquela frase ficou batendo em sua cabeça durante horas, não poderia ter um filho, sabia que não viveria muito, ela tinha aprendido que aquela vida era muito curta pra criar um filho. Sem saber que o fazer simplesmente esperou, parou de roubar bolsas e caiu de vez na prostituição, estava velha de mais para ficar roubando e ganhando aquelas misérias que vinham nas bolsas das velhinhas. Cobrava quinze reais o programa, mas pros amigos da rua dava de graça, não queria ter certeza de quem seria o pai do seu filho, seu filho nunca teria um pai.
Passaram-se os meses, e sua barriga crescia, ela fumava craque, cheirava cocaína, bebia muita cachaça para tentar acabar de vez com aquela gravidez, tinha ainda a possibilidade da criança nascer morta, era tudo o que ela queria. Se destruir para tentar matar aquela criança que nem havia nascido, isso é só no que ela pensava.
Uma noite, no beco perto da ponte, começaram as dores do parto, o seu instinto de fêmea sabia o que estava acontecendo, pensou em muitas coisas, mas não conseguiu realizar nenhuma.
Caiu ao lado da lixeira nos fundos do bar, pegou algumas caixas de papelão e sentou, esperou a natureza fazer o seu trabalho. Fez força, muita força e minutos depois, no meio de uma poça de sangue e muita água, estava uma criança, perfeita, com todos os membros chorando e se debatendo.
Ela estava muito fraca, esticou o braço, pegou uma sacola no lixo, colocou a criança dentro, era uma menina, nenhuma lágrima correu em seu rosto, arrumou uma cama de papelão e a deixou na porta dos fundos do bar, ali ao lado da lixeira. Caminhou até o rio, e num desmaio caiu na água poluída, não lutou nem nadou, morreu poucos segundos depois.O garçom do restaurante só encontrou a criança horas depois quando saiu para levar o lixo, chamou os bombeiros, mas a criança não resistiu e morreu. Essa criança não foi matéria de jornal, notícias como essas não valem mais a pena, a adolescente que foi encontrada boiando no rio em frente à prefeitura foi esquecida e o garçom que chorou ao ver a criança morta, nem imaginava que aquela menina embrulhada num saco de lixo era sua neta.

1 comentários:

Anônimo disse...

UAUUUU!!
Vc me avisou que eram pesados, e, embora o conteúdo seja realmente pesado, o texto é mto bom!!!
Parabéns!!!
Vou vir sempre pra dar uma conferida e ter um pouco de boa leitura!!
Beijinhos!
Li

Ş