segunda-feira, 14 de abril de 2008

ESTRANHO TRIANGULO

A vida, às vezes nos leva por caminhos em que nós precisamos ter certeza de quem realmente somos.
Já passavam das dez, a noite estava fria, a chuva lá fora denunciava que o inverno este ano seria intenso. O bar estava vazio, eu cumpria minha rotina, polia os copos meticulosamente, pensando em como a vida me trouxera até ali, 20 anos atrás de um balcão de bar polindo copos, servido chope, fazendo drinks. Às vezes o bar parecia uma família, às vezes uma guerra.
O garçom recebeu na porta um casal que escolheu a mesa mais funda e escondida do bar. Ela sentou-se de costas para a parede, ele de frente para o balcão, pediram para baixar a luz e aumentar o som. Tocava um jazz como sempre, o clima era romântico, mas o cheiro do ambiente não era bom, havia alguma coisa estranha no ar. O casal pediu um vinho, ela parecia nervosa, gesticulava muito, a taça esvaziava rápido, mas sorria, sem deixar que a tensão transparecer. Ele estava tranqüilo e trazia no rosto um sorriso estranho, sarcástico e feliz.
Um homem entrou caminhando lentamente, o pesado casaco preto parecia carrega-lo pelos ombros, sentou no balcão, pediu uma cachaça, tomou num gole só. Levantou-se e foi em direção do casal, tirou a arma e apontou para o homem, que sentado, serviu mais um pouco de vinho nas duas taças. Um silêncio aterrorizante preencheu todo o espaço. Num impulso, um tiro! A mulher caiu já morta com os miolos espalhados pelo chão do bar.
O homem levantou-se calmamente, beijou o assassino na boca, e caminhou em direção a porta, no caminho deixou o dinheiro da conta no balcão, quase na rua, virou-se, examinou a cena e disse:
_Obrigado meu amor, muito obrigado!
Foi embora como se nada tivesse acontecido.
Eu tive de largar meus copos e chamar a policia. O assassino não foi embora, sentou-se na cadeira ao lado do corpo e pediu outra cachaça.
Voltei para os meus copos, a polícia veio, prendeu o assassino que não ofereceu resistência, respondi milhares de perguntas aos investigadores, mas uma ficou sem resposta: Quem amava quem naquele estranho triângulo?

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